Está claro o papel fundamental exercido pelos caminhoneiros para manter o País funcionando adequadamente. Entretanto, algumas situações inesperadas como queimadas, inundações e até mesmo uma pandemia, como foi a Covid-19, deixam as cadeias de abastecimento fragilizadas e tornam ainda mais essencial o papel do motorista de caminhão. Esses profissionais, se arriscam para continuar transportando os insumos e não impactar negativamente no dia a dia dos brasileiros ou até mesmo fazer chegar ao destino doações.
Porém, apesar de toda essa relevância e importância desses profissionais nesses casos extremos, os caminhoneiros reclamam que não existe uma preocupação por parte de empresas ou órgãos do governo em oferecer estrutura para atender as necessidades básicas. Entre eles, um bom lugar para parar, descansar, tomar um banho se alimentar e até mesmo se proteger e tornar mais fácil a operação nesses momentos críticos.
Caminhoneiros reclamam de falta de infraestrutura e valorização
Elijane Wosniak, tem 44 anos há 20 na profissão, é autônomo, de Porto Velho/RO, e atua na rodovia BR 319, no trecho de Manaus a Porto Velho. Ela conta que pela falta de balsas para a travessia, somada a estiagem, que impede a passagem, e o péssimo estado de conservação da estrada, enfrenta, com frequência filas quilométricas e sem nenhuma estrutura próxima. Na ocasião da reportagem ela estava há três dias aguardando a liberação para a travessia.
“É bem complicado e desafiador ficar parada nesse local. Enfrentamos situações bastante complicadas. Afinal, não recebemos nenhuma ajuda e não temos acesso a uma estrutura básica como banheiro, restaurante e, principalmente água. Temos que viajar com galões de água trazidos de casa para não ficar sem hidratação na estrada. Além disso, temos que pagar R$ 450 para ir e depois o mesmo valor para voltar. Toda essa travessia é arriscada e ninguém faz nada”, desabafou.
Porto pavimentar o trecho que a gente sobe lei de meio ambiente pelo rio não passa a rodovia o governo federal não da estrutura
Joriel Patricio Dias, tem 46 anos de idade e 24 de profissão e é de Cuiabá/MT. Ele conta que apesar de já ter viajado o Brasil inteiro, atualmente transporta combustível dentro do Estado. Porém, enfrenta algumas situações de emergência, como é o caso das queimadas.
“Muitas vezes na BR-163, na saída de Cuiabá, sentido Sinop, trafeguei no meio do fogo na beira da pista. E como estou carregado de combustível isso ser torna muito perigoso. Em uma situação dessa não dá para parar. Temos que seguir. Já presenciei um caminhão carregado de pluma de algodão parou na beira da pista e o fogo que estava no mato queimou todo o veículo”, lembrou.
Joriel disse que foram várias situações arriscadas vivenciadas. A comunicação nesse trecho é feita pelo rádio PX. Ele conta que muitas vezes recebeu a informação antecipada sobre queimadas e interrompeu a viagem.
Outro motorista que também enfrenta desafios com a queimada é Edgar Alves da Silva, 42 anos, de Campo Grande/MS. Ele atua no transporte de pluma de algodão que, segundo ele, é de grande risco quando o assunto é fogo. Ele faz a rota Sinop/MT a Santos/SP.
“Na época das queimadas em Mato Grosso passei por diversas situações preocupantes. Cheguei a ficar dias parado em Cuiabá porque a Serra de São Vicente/SP estava com pontos de queimada. E qualquer faísca no meu caminhão pode trazer risco a minha via e de terceiros”, explicou.
Edgar ressalta que a fumaça é tóxica e também traz grandes riscos aos motoristas. E, segundo ele, não existe nenhum tipo de apoio para ajudar o caminhoneiro nessas situações. “Não estou falando de grandes ações. Estou falando de ajuda como uma água, um local adequado para parar com segurança e conforto. Temos que tentar sobreviver sozinhos. Minha esposa me orientou a molhar uma toalha e colocar no nariz para eu não passar mal”, disse.
Dsqui Pontes, 49 anos, no setor de transporte há 11, de Cachoeirinha/RS, contou que durante as cheias que atingiram o Rio Grande do Sul, a empresa na qual trabalha, disponibilizou básculas, hidrojatos e principalmente pipas, além de retroescavadeiras, escavadeiras, escavadeira anfíbia, barcos e até balsa.
“Se os caminhoneiros já eram vistos como heróis, com essa catástrofe climática, esse patamar foi elevado. Durante mais de mês, foi uma luta árdua, onde o semblante dos nossos motoristas, mostravam a fadiga de um trabalho cheio de desafios, onde pessoas perderam tudo”, relembra.
Dsqui conta lembra que com a ruptura do abastecimento dágua, o abastecimento das cidades atingidas, foi feita por incontáveis caminhões pipa e, coube aos caminhoneiros tramalhar dia e noite, para suprir o fornecimento. Como gestor de frotas, na Podolak, Dsqui acredita que houve uma mudança drástica na maneira que os caminhoneiros passaram a se comportar, não havia mais ”horário”, e sim quantas pessoas poderiam ser ajudadas.
“Trabalhar com a angústia e a perda das pessoas é diferente, do que transportar uma carga. Há uma enormidade de sentimentos envolvidos, algo que nos transforma como ser humano. Pra mim, todos eles, que participaram dessa situação, são heróis, anônimos heróis, que contribuíram para ajudar o Estado”, disse.
Douglas Leal, mora em João Pessoa a mais de 10 anos, trabalha em uma empresa em Santa Catarina, e também ajudou o Estado do Sul na época das enchentes. “Eu vi na minha profissão uma chance de ajudar as pessoas. Durante as enchentes eu estava voltando do Sul para o Nordeste, carregaria lá e voltaria para o Sul. Então decidi ocupar o espaço que sobrou do caminhão com doações”, explicou.
Apesar de, na época, ter pouco seguidores nas mídias, um dos vídeos sobre as doações viralizou e Douglas começou a receber muitas mensagens. E antes de chegar em casa no Nordeste já tinha mais de 40 toneladas de doação o esperando e esse número foi crescendo. “Então decidi falar com o meu chefe para pedir autorização para levar essas doações e rapidamente ele aceitou e liberou o bitrem de 30 metros. Além disso, através de um outro vídeo consegui doações de ajuda de custo e mais doações. E o que era para ser uma ação pequena se tornou grandiosa. Levamos água, cesta básica, medicamento, roupas, calçados, colete salva vidas. O estádio de futebol Almeidão de João Pessoa fico a minha disposição para as doações”.
Diferente dos outros colegas que não tiveram apoio, Douglas conta que por conta desse trabalho de levar as doações ficou 26 dias sem trabalhar para a empresa. E ele é comissionado. Mas, não foi pressionado pela empresa, teve apoio da população e se sentiu valorizado com os desafios enfrentados nessa ação.
Fonte: O Carreteiro