Aumentar a segurança das estradas e reduzir as emissões de poluentes, com um significativo ganho na produtividade do setor de transportes com a renovação da frota de caminhões no Brasil agora tem um preço. Um amplo estudo realizado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) destaca que seriam necessários R$ 1,16 trilhão para deixar o setor de transportes totalmente renovado.
O estudo levou em conta vários cenários, entre eles, a substituição total dos veículos fabricados antes de 2022, ou seja, modelos anteriores a adoção da tecnologia de emissão Euro 6, que passou a ser obrigatória em janeiro de 2023. Esses veículos mais novos correspondem a apenas 4,9% da frota em circulação no país.
O valor total para renovação da frota no Brasil é muito elevado para o cenário atual da economia, por isso, a CNT diz que é necessário que os investimentos sejam feitos de forma escalonada, incialmente substituindo os caminhões mais antigos.
Com a substituição de caminhões anteriores ao Proconve P1 (Programa de Controle de Emissões Veiculares), a primeira fase foi iniciada em 1989, seria necessário um investimento de R$ 104,82 bilhões. Esses são os modelos mais poluentes em circulação atualmente, já que os motores não tem qualquer sistema de controle de emissões.
De acordo com a CNT, essa parcela é de 152.491 caminhões, ou 11,8% do total de caminhões em circulação atualmente.
Já a substituição de veículos exclusivamente da fase P5 (cuja participação em relação à frota total é de 22%) demandaria R$ 266,61 bilhões.
“A proposta leva em conta como as tecnologias mais modernas têm contribuído sobremaneira para a redução de poluentes na atmosfera. Se nós quisermos um país com menos emissões, teremos de incentivar a renovação no modo rodoviário, responsável por 65% do transporte de cargas e 90% da locomoção de passageiros. É fundamental, a curto e médio prazos, proporcionar a troca e retirada dos veículos antigos de circulação e encaminhá-los para a reciclagem”, alerta o presidente do Sistema Transporte, Vander Costa.
O estudo da CNT evidencia que se fossem substituídos, de uma única vez, todos os caminhões, fabricados até 2022 (fases P0 a P7) — o que corresponde a 1.226.778 veículos ou 95,1% da frota nacional —, haveria um ganho ambiental de 86,3% em relação à situação atual.
Para viabilizar a substituição de 1,22 milhão de caminhões, seria necessário o investimento aproximado de R$ 1,16 trilhão. Considerando o estoque de ativos dos transportadores que pode ser vendido, o desembolso efetivo seria de R$ 845,58 bilhões.
Além disso, observa-se que 54,9% da frota cadastrada no Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas (RNTRC) da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) supera 13 anos de fabricação (são caminhões produzidos até 2011, ano final da fase P5 do Proconve).
Para substituir essa parte da frota por caminhões da fase P8, o investimento, alcança R$ 613,48 bilhões. Todavia, ao considerar a possível venda do estoque de caminhões existente, o aporte necessário seria de R$ 529,54 bilhões.
Também é importante destacar que as empresas de transporte de cargas (ETC) concentram 68,2% da sua frota em veículos com tecnologias mais recentes (fases P7 e P8), enquanto os transportadores autônomos de cargas (TAC) possuem, apenas, 12,8% da sua frota total de caminhões produzidos nas mesmas fases.
A análise evidencia que um dos maiores desafios para a renovação de frota é o desenvolvimento de políticas públicas de incentivo econômico para acelerar esse processo. A defesa da descarbonização pelo setor transportador deve ser um dos principais fatores que impulsionam o transporte sustentável, garantindo o suporte às especificidades de cada segmento. Outro ponto a ser considerado é a forma de promover equidade nos incentivos a autônomos e empresas de transporte de carga.
O diretor executivo da CNT, Bruno Batista, pondera que a descarbonização é cobrada do setor constantemente, só que há um descompasso entre as metas pretendidas e as políticas indutoras.
“A aquisição de um caminhão com a tecnologia mais recente disponível no mercado gera a imobilização de alto volume de recurso em um único bem. Além disso, faltam políticas estruturadas para o financiamento dos veículos usados”, observa.
Blog do Caminhoneiro